Num clube com uma história tão rica como a do Real Madrid é estranho estar a destacar a conquista de um campeonato, que na altura seria o trigésimo segundo. Mas a verdade é que nessa temporada a equipa dos Merengues foi uma verdadeira trituradora, batendo o recorde de pontos na liga Espanhola (que seria igualado na temporada seguinte pelo Barcelona de Tito Vilanova), bem como o recorde de golos marcados (com 121 tentos apontados), de diferença de golos (89 golos positivos) e de vitórias fora (16). O anterior recorde de pontos pertencia ao Barça que na época 2009/10 venceu La Liga com 99 pontos. Por outro lado o recorde de golos já tinha assinatura do Real, quando em 1989/90 apontaram 107 golos.
Texto por José Silva
Mas esta conquista foi muito mais do que recordes. Foi também a quebra da hegemonia do Barcelona, tricampeão, e uma chapada de luva branca a todos os críticos de José Mourinho, que apesar de todas as suas conquistas via as suas equipas serem apelidadas de super defensivas.
Uma nova etapa
Embora composta por estrelas, esta equipa do Real Madrid já não era o que em tempos foi, por isso importa fazer uma pequena contextualização. Podemos analisar o investimento que foi feito desde que Florentino Perez está no Real, em 3 fases:
• Los Galáticos - Figo, Bechkam, Ronaldo “Fenómeno”, Zidane… (fase de grande investimento em craques já “feitos”, que davam mais lucro por questões mediáticas do que propriamente pelo que faziam em campo);
• Zidanes e Pávones – Pávon, Casillas, Raúl… (juntar os craques com os jovens da cantera);
• Era de Mourinho – Ricardo Carvalho, Dí Maria, Özil, Khedira… (Não contratar jogadores só porque vendem camisolas, mas sim jogadores úteis ao modelo de jogo da equipa; jogadores humildes e com vontade de vencer mais na sua carreira).
Para além da brilhante época a nível interno, Los blancos chegariam ainda às semifinais da Champions League (sendo apenas eliminados pelo Bayern de Munique nos penaltis). Mais tarde Mourinho viria a revelar que foi a única vez que chorou devido a uma eliminação, o que demonstra bem a forma como sentia essa equipa.
Onze base:

Outros Jogadores:
Higuaín (A); Calejon (A); Morata (A); Jesé Rodríguez (A);
Kaká (M); Sahin (M); Granero (M); Lassana Diarra (M);
Fábio Coentrão (D); Varane (D); Nacho (D);
António Adán (GR);
A atacar:
O ponto forte da equipa de José Mourinho era sem dúvida o contra-ataque. Utilizava normalmente cinco jogadores nas saídas rápidas para o ataque, que eram lançados pelos passes longos de Xabi Alonso, sendo que o seu principal alvo era Cr7 (apontou 60 golos nessa época). Mas o poderio desta equipa era mais notado frente a equipas mais ofensivas, onde havia um maior lado estratégico.
A defender:
Defensivamente eram muito compactos, principalmente devido à agressividade que punham em todos os lances. Numa equipa que jogava sempre com os olhos postos no contragolpe, a defender, apostavam num 4-4-2, com Benzema e Özil a serem os primeiros a sair na pressão. Ronaldo e Dí Maria (muitos rápidos) ficavam nas alas, para que pudessem ser servidos rapidamente quando a bola fosse recuperada. Se o adversário jogasse pelo corredor central, era rapidamente abafado pela pressão de Xabi Alonso e Khedira. Se, por outro lado, procura-se jogar “por fora” eram os extremos da equipa merengue que iriam pressionar agressivamente (sempre com a cobertura dos jogadores na zona central). Bater direto na frente nem era uma opção, devido às “torres” que moravam na defesa Madrilena.
A concorrência:
Como já referi, a concorrência era o tricampeão nacional e campeão Europeu Barcelona.
A formação Blaugrana vivia anos fantásticos, onde a segurança defensiva do capitão Puyol e de Piqué, com as subidas constantes de Dani Alves e Adriano, aliada à magia do tridente do meio campo Busquets, Xavi e Iniesta, e à movimentação frenética de David Villa e Alexis Sanchéz, servidos pelo Inigualável Messi (que nessa temporada apontou 73 golos num duelo emocionante com CR7), resultava no Tiki Taka no seu esplendor máximo. Os jovens Tello e Thiago Alcântara começavam a aparecer.
Perante esta equipa de sonho com dinâmicas bem consolidadas e o Tiki Taka no seu auge, Mourinho testou várias soluções para os travar. Apostou num losango a meio campo, meteu Pepe a médio defensivo (quase exclusivamente) a marcar Messi, colocou CR7 sozinho na frente…, mas naquela que seria a última época de Guardiola na Catalunha, parece ter encontrado a fórmula certa para travar a hegemonia dos Cúles. O segredo desta época residiu particularmente no confronto que estes dois colossos protagonizaram na trigésima quinta jornada de la liga.
No último El Classico da época, o Real mostrou ao mundo o seu lado mais estratégico. Los Blancos gelaram Camp Nou com uma vitória por 2-1 que lhes abriu caminho para o tão esperado título de campeão.
E foi dessa forma que Mourinho e o Real Madrid puseram fim ao domínio do Barcelona.
O que parecia ser apenas mais um título de campeão na história do gigante de Madrid revelou-se um feito para recordar durante anos. Esta conquista teve ainda mais impacto pelo facto de nos sete anos seguintes o Real ter ganho apenas mais um campeonato...
Espero que tenham gostado. Se assim foi partilhem.
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