A história do Parma foi passada maioritariamente em escalões inferiores e sem grande visibilidade ou títulos. Contudo nos anos 90 os Ducalli mostraram uma outra face, batendo-se com os grandes da Europa e conquistando mesmo títulos internacionais. Como? Com o alto patrocínio da Parmalat. A empresa de lacticínios que, contudo, iria declarar falência e assim levar o Parma para a miséria. A década de (19)90 foi sem dúvida a melhor da História dos Ducalli.
Texto de José Silva

Desde a sua fundação, em 1913, e ao longo da sua história o Parma viveu épocas tranquilas, com algumas descidas de divisão e épocas medianas com pouca emoção. O absoluto contraste com o que aconteceu a partir de 1980, quando Ernesto Ceresini assume a presidência do clube e realiza um trabalho fantástico que levou os levou à Serie A. O histórico presidente acabaria por falecer antes de consumar o histórico feito, mas ainda assim teve tempo para contratar o jovem Nevio Scala para treinador.
A era Parmalat
A entrada da famosa empresa de Lacticínios no clube - em meados dos anos 90 - trouxe, naturalmente, um forte investimento. Com o objetivo de aumentar os lucros da sua empresa, que nos anos 60 já faturava à volta de 25 Milhões de Euros ao ano, o dono Calisto Tanzi procurou promover a Parmalat através do desporto. Fê-lo por intermédio do Esqui Alpino, Formula 1 e (claro) do Futebol - Real Madrid, Palmeiras ou Boca Juniors foram outras equipas patrocinadas.
A entrada de capital foi o fator mais determinante para que tudo corre-se bem. No entanto, a contratação de Nevio Scala para técnico do emblema do norte de Itália foi um passo de gigante para esta história de conquistas. Scala era um estudioso da tática e amante do Cattenaccio. Ao contrário dos anteriores técnicos (Sacchi e Zeman) que abordavam os encontros de uma forma mais ofensiva. Já entre a elite do futebol Transalpino - leia-se na Serie A - os Parmensi logo conseguiram um sexto lugar, que os qualificou para a Taça UEFA.
Nevio Scala - Treinou e presidiu o Parma
Os títulos, finalmente!
A qualificação Europeia logo na primeira temporada entre os grandes foi um grande feito. Mas desde logo se percebeu que isso seria apenas o início de uma fantástica década. Sempre a aspirar mais e mais o Parma vence a taça de Itália e a taça das taças na época seguinte. Esta última deu lhes acesso à supertaça Europeia, onde derrotaram os Belgas do Antwerp. Estava dado o aviso aos "tubarões" Europeus: este Parma não era de 'consumo' interno.
Na temporada 1994/95, com jogadores como Fernando Couto, Gianfranco Zola ou Aspirilla, conseguem o 3º lugar na série A, ficando apenas atrás de Juventus e Lazio e chegam à final da taça (que perdem para a Juventus). A nível Internacional conquistam a taça UEFA ao bater (novamente) a Juventus.
Em 1996/97, já com Carlo Ancelloti, a candidatura ao título é levada a sério e terminam no 2º lugar a apenas dois pontos da Vechia signora.
Na primeira temporada de sempre em que participam na Liga dos Campeões, no ano em que a competição passou a abrir lugar aos vice-campeões, não vão além da fase de grupos. Os nove pontos amealhados foram insuficientes para superar o Dortmund, que se apurou com 15 pontos.
Candidatos assumidos
Em 1998 com a chegada de Alberto Malesani a treinador dos Parmensi (Scala mudara-se para o Perugia), o Parma conquista a Taça UEFA ao vencer o Olympique de Marseille por 3-0 e a Copa de Itália ao superar a Fiorentina. Malesani havia passado muitos anos na Holanda e foi aí que, segundo se diz, procurou aprofundar conhecimento sobre as táticas Holandesas na era do Futebol Total, do Ajax dos anos 70. Naturalmente procurou replicá-las no Parma.

O segredo foi formar uma equipa sólida e coesa desde traz. A baliza estava a cargo de um 'miúdo' formado no clube, um tal de Gianluigi Buffon que com 21 anos já caminhava para ser um dos melhores de sempre. A experiência de Sensini aliada à concentração e eficácia de Cannavaro formavam uma dupla brilhante na defesa. Nas laterais estavam Vanoli e Thuram, muito forte nas marcações. Boghossian, também muito bom nas marcações e desenvolto ofensivamente, auxiliava o tecnicista Baggio, um dos melhores jogadores da história do Parma e talvez do futebol Italiano nos anos 90. O polivalente Fusor e o ídolo da Argentina Verón serviam muitas vezes os homens da frente, Chiesa e Hernán Crespo, para que estes faturassem. De resto, Crespo seria vendido no ano de 2001 à Lázio por uma verba na casa dos 46 Milhões de Euros, que constituíram um recorde (na altura) no Calcio Italiano. El Valdanito foi um dos melhores avançados da Argentina e recordista de golos na Serie A pelos Parmensi.
Do céu ao inferno...
Parecia não haver meio de terminar esta década gloriosa dos Italianos… mas não há bem que sempre dure. Em 2003 a felicidade dos Tifosi Giallo Blu chegou ao fim. Com um escândalo de corrupção que abalou a Parmalat - passaram a deter um prejuízo na casa dos 17 Milhões de Euros - o Parma vê fugir-lhe a grande "mola" do futebol do clube. O que se seguiu foram 3 anos sem encontrar comprador e uma gestão periclitante que terminou com a sua falência em 2015. Entretanto, e para evitar o ingresso no futebol amador, a 25 de Junho de 2004 foi criado o Parma Football Club, que manteve os direitos do Parma A.C.
Podia ter sido o fim, mas não se renderam e sob o nome de Dilettantistica Parma Calcio 1913, foram subindo de divisão em divisão até chegar de novo à Serie A. Pelo meio sofreram um investimento Chinês, que lhes assegurou sustentabilidade, mas nada leva a crer que voltemos a ter um Parma como já tivemos nos anos 90. Para trás ficaram as noites mágicas que colocaram Parma no mapa Europeu. Os títulos que fizeram os grandes colossos tremer. Grandes jogadores como Taffarel, Cannavaro, Aspirilla ou Baggio. Um clube que marcou a história do futebol.

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