top of page

Internazionale Milano (2010) - O inédito triplete

Foto do escritor: José SilvaJosé Silva

Atualizado: 23 de nov. de 2020

Massimo Moratti (antigo presidente do Inter) era uma criança quando assistiu à primeira era dourada do Inter, nos anos 60, que venceu por exemplo a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Nessa equipa, presidida pelo seu pai, Angelo Moratti, estavam Luís Suarez, Sandro Mazzola ou o mítico treinador Helénio Herrera. Passados 50 anos a glória voltou, já sem os imortais craques que outrora fizeram parte da historia do clube, mas uma equipa com garra, ambição e sonhos incutidos por um Português - José Mourinho. Fait Divers, hegemonia interna e notabilidade na Europa foram a marca d'água do Internazionale Milano que conquistou o triplete.

 

Texto de José Silva

Para recordar. O Inter chegou ao topo da Europa. (Foto: fifa.com)

Hegemonia em Itália

Muito antes deste fantástico Triplete (Campeonato, Taça de Itália e Liga dos Campeões) o Inter já estava a preparar uma supremacia interna que perduraria nos anos seguintes. No caminho para as conquistas contou com ausências de peso na Série A, já que em 2006 o processo Calciopoli (escândalo de manipulação de resultados que acusou diversos dirigentes, árbitros e clubes Italianos de corrupção) levou a Juventus à segunda divisão e retirou pontos a Lázio, Fiorentina e AC Milan no campeonato. De resto, o Inter beneficiou do título de 2005/06 na secretaria (anteriormente atribuído à Juventus).

Contudo a equipa orientada por Roberto Mancini viria a conquistar as duas Ligas Italianas seguintes "dentro de campo". Em sentido inverso sucediam-se os insucessos Europeus - não chegavam a uma final da UEFA Champions League desde 1971/72.

As conquistas internas não saciavam a direção Interista e a convivência com Mancini foi-se desgastando com o tempo, até que no final da temporada 2007/08 acabaria despedido. A relação complicada com a equipa médica do clube (criticou publicamente os seus métodos), com o presidente (pela não utilização de Luís Figo) e com a imprensa (porque estava descontente com o que diziam dele), contribuíram para a sua inevitável saída.

O show de Mourinho

Sem clube desde desde que deixara o Chelsea e com mérito reconhecido nas provas da UEFA (já tinha no currículo uma Taça UEFA, uma Liga dos Campeões e sucessivas presenças nas fases adiantadas da competição), José Mourinho foi o escolhido para levar os Nerazzurri à glória além fronteiras. Dono de uma dialética inconfundível e de uma hábil capacidade para dominar as entrevistas, o Português surpreendeu logo na primeira conferência de imprensa em Itália. Quando os jornalistas procuravam saber, de forma subtil, se o treinador Luso iria trazer alguns jogadores do Chelsea para Itália, Mourinho respondeu "mai io non sono Pirla" (expressão em calão da Lombardia, que significa "eu não sou idiota"), mostrando num Italiano fluente que percebia bem a intenção dos repórteres.

Veja o vídeo em:


Na primeira época no clube de Bérgamo, o técnico Setubalense arrecadou uma Liga Italiana e uma taça de Itália, embora o Inter tenha sido eliminado nos oitavos de final da 'Champions'. O melhor, todavia, estava guardado para a época seguinte.


Uma equipa vencedora

O ataque à prova maior da UEFA requeria alterações de peso no plantel. Entre reforços e saídas a equipa Biscione reconfigurou-se por completo. Luis Figo (retirou-se), Adriano (Flamengo), Crespo (Génova), Viera (Man. City) e Zlatan Ibrahimović, que saiu rumo a Barcelona para vencer a 'orelhuda', foram alguns dos que deixaram o estádio Giuseppe Meazza.

Mourinho sabia que a sua equipa era bastante forte a defender em bloco baixo, muito perto da sua baliza, mas queria uma proposta de jogo mais ofensiva, mais dominante. Nesse sentido e tendo em conta que a linda defensiva já tinha ultrapassado o pico de carreira, tentou contratar Ricardo Carvalho, que tinha o perfil desejado (rápido e seguro) mas não foi possível. O plano B foi, o não menos craque, Lúcio (capitão da seleção Brasileira, Ex-Bayern). No meio campo, embora houvessem soluções que davam garantias de um jogo seguro, faltava alguém com capacidade de passe e visão de jogo. O escolhido foi Wesley Sneijder (Internacional Holandês, Ex-Real Madrid). No último terço do terreno, para substituir Ibrahimović vieram Diego Milito (marcara 24 golos no Génova) e Eto'o (incluído no negócio de Zlatan). Com estas modificações na estrutura do plantel, tanto podiam dominar o jogo com bola, como apresentar uma postura mais pragmática.


Como Jogavam

Onze base da época 2009/10

Outros jogadores:

  • - Francesco Toldo (GR);

  • - Materazzi (D); Burdisso (D); Chivu (D); Davide Santon (D);

  • - Patrick Vieira (M); Muntari (M); Mariga (M); Pandev (M);

  • - Ricardo Quaresma (A); Mário Balotelli (A); David Suazo (A);


  • A atacar

Embora tivessem fama de equipa super defensiva, os comandados por José Mourinho também sabiam fazer ataques posicionais e guardar a posse de bola com frequência. A equipa assumia um 4-4-2 Losango em jogos nos quais tinha maior pendor ofensivo (geralmente no Calcio), mas era facilmente transformado num 4-2-3-1 em que Eto'o e Stanković apareciam nas alas. Os centrais faziam uma construção simples, sem passes arriscados. Thiago Motta e Cambiasso eram muitas vezes os escolhidos para iniciar as jogadas ofensivas, pelo que baixavam perto dos defesas. O criativo Stanković levava o jogo para a frente, desmarcando-se bastantes vezes. Sneijder era extremamente inteligente, de maneira que jogava livre no meio campo procurando dar linhas de passe tanto atrás como à frente. Maicon era um dos grandes impulsionadores ofensivos da equipa, ora pelas desmarcações e tabelas, ora pelos cruzamentos que fazia. Milito e Eto'o estavam em constantes movimentações e o Camaronês em particular juntava-se não raras vezes ao flanco esquerdo, dadas as escassas subidas de Zanetti.

  • A defender

Tanto faziam pressão alta como jogavam em bloco baixo. Tinham especial atenção à zona central, onde o espaço era quase inexistente.

Era bastante habitual Zanetti fechar junto dos centrais quando a equipa atacava. O médio interior (normalmente Stanković) compensava as subidas de Maicon. Lúcio e Samuel eram muito fortes no jogo aéreo, o que era naturalmente uma mais valia para uma equipa que, ao fechar a zona central, obrigava o adversário a fazer vários cruzamentos.

Veja os golos em:

Ponto forte

O ponto mais eficiente do jogo do Inter era sem dúvida o contra-ataque. Era normalmente Cambiasso quem iniciava os contra-golpes, arremessando a bola para as laterais onde se encontravam Eto'o (na esquerda) e Maicon (direita). Sneijder também era muitas vezes e requisitado para levar a bola controlada até à área adversária ou servir os avançados.

José Mourinho. Em Milão chegou ao patamar dos melhores treinadores de sempre

Senhores da Europa 50 anos depois

A glória Europeia esteve longe de ser um passeio para o gigante de Milão. Logo na fase de grupos apanharam o favoritíssimo e campeão em título Barcelona, mas também Rubin Kazan e Dynamo de Kiev que causaram igualmente problemas. Com esforço e um pouco de sorte à mistura, conseguiram apurar-se no 2º lugar (atrás do Barça). Os oitavos de final ficaram marcados pelo reencontro do Special One com os antigos pupilos do Chelsea, onde o Português levou a melhor nos dois duelos. Vitórias por 2-1 e 1-0 carimbaram o passaporte para os 'quartos', onde encontraram o surpreendente CSKA Moskovo. Mas os Russos não conseguiram levar a melhor sobre o pragmatismo Italiano. Para as meias finais estava reservada uma final antecipada. Barcelona e Inter protagonizaram uma das eliminatórias mais marcantes da história recente das competições da UEFA. Os Nerazurri venceram por 3-1 em casa e isso foi determinante para a 2ª mão. Em Camp Nou realizava-se muito mais do que um jogo de futebol. Frente a frente estavam dois treinadores com dois estilos de jogo completamente distintos (Guardiola com o Tiki Taka e Mourinho com o contra-ataque), e duas equipas que procuravam fazer história (o Inter procurava chegar a uma Final da 'Champions' 38 anos depois e o Barça queria ser o primeiro bi-campeão Europeu no novo formato da competição). No fundo defrontavam-se a melhor equipa do Mundo (na altura) e uma equipa de veteranos desacreditados. A vantagem de dois golos trazida do primeiro jogo dava alguma segurança, mas com a expulsão de Thiago Motta logo aos 28 minutos e o poderoso ímpeto ofensivo dos Blaugrana, promovido pelo público Catalão, estavam reunidas condições para que tudo corresse mal. Aí entrou em ação a mestria dos comandados por Mourinho, que com uma exibição sensacional de Júlio César, chegaram à final de Madrid. Naquele que seria o último jogo do Português pelo Internazionale Milano (transferir-se-ia para o Real Madrid), os Transalpinos bateram o Bayern Munique com dois golos sem resposta, sagrando-se Campeões Europeus pela segunda vez na história e consumando o inédito triplete.

Reveja algumas eliminatórias:


Tocar no céu e...cair

O ano de 2010 ficou na memória de todos os Interistas. A juntar ao Pentacampeonato, à Taça de Itália e à já referida Liga dos Campeões, conquistaram ainda o Mundial de Clubes e a Supertaça (estes últimos sob a orientação de Rafa Benítez). No entanto este ciclo vitorioso, como qualquer outro, iria terminar. Com o passar dos anos o clube foi perdendo grandes referências do balneário (como Zanetti, Lúcio, Materazzi ou Milito) e os jogadores contratados, embora tivessem muita qualidade, não encontraram a estabilidade necessária (caso de Coutinho, Guarín ou Kovacic). Por outro lado a Juventus "acordou" e dominou por completo as competições domésticas. Em 2013, com a formação azul e negra a precisar de dinheiro, o histórico presidente Massimo Moratti vendeu 70% das ações do clube a um investidor Asiático. Desde então tem se visto uma tentativa muito forte de reencarnar o velho Inter.

 
 
 

Comentários


Post: Blog2_Post

Formulário de Inscrição

Obrigado pelo envio!

©2020 por Hora d'abola. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page